OS ddr pelo Caminho Português da Costa

1.10 de junho, dia de Portugal e da Comunidades Portuguesas, dia em que quatro atletas duros de roer comó…escalaram por Aldreu o ponto mais alto do concelho de Barcelos, o S.Gonçalo, bom, mas nós não estamos aqui para alardear as façanhas corriqueiras de cicloturismo de domingo, mas para tentar descrever as peculiares incidências dos ddr pelo Caminho Português da Costa que o grupo trilhou há uma semana.

 

2.No passado domingo, dia 3, concluímos uma rota dos Caminhos de Santiago iniciada no dia anterior. Escolhemos fazer pela segunda vez em oito anos o Caminho Português da Costa, porque, dos dezoito ddr deste ano, só cinco é que o tinham feito de mtb e dois a pé.

Em 2010, fomos um dos dois grupos em bicicleta, com a particularidade de sermos o único grupo em autonomia que participou na estreia oficial deste caminho que, na altura era um caminho quase desconhecido, as referencias sobre esta rota medieval eram escassas, a sinalética era praticamente inexistente, daí para cá muita coisa melhorou, desde a criação de albergues a uma boa sinalização, muito por graça e empenho do Sr Manuel Rocha da Propedal e da Associação Jacobeia Via Veteris de Esposende que tem sido incansáveis no dinamismo e melhoramento da via até Castelo Neiva. Atualmente das cerca de trinta rotas oficializadas a Santiago de todos os pontos da europa, o Caminho Portugues da Costa, que também atravessa o centro da vila de Apulia, já é, depois do Caminho Frances, o 2º Caminho mais peregrinado e o que mais tem crescido nos últimos anos.

 

A partida do grupo dos 18

3.Comecemos então por descrever como correu a nossa maratona a Santiago, principalmente para os nossos amigos e ddr no estrangeiro e outros ddr que não puderam estar connosco.

Tivemos a sorte de começar o caminho a partir de casa. Com um novato nestas coisas dos caminhos de Santiago, o António Soares, o Tone, que durante dois dias foi o Tone dos credenciais, mais adiante explicamos porquê.

Sendo um dos maiores grupos de sempre, os 18 ddr, apresentaram-se programados e bem atestados de calorias para roer os 160km, da etapa do dia que haveria de terminar em Pontevedra.

Só com 41 minutos de atraso da hora prevista, o que para os padrões dederrianos até foi bom, às 06h11, começamos a dar ao pedal. Deu logo para perceber que não haveria moleza, toda a gente estava desejosa de ativar o pedaleiro rapidamente e lá fomos virados a norte com o tempo porreiro a ajudar-nos.

O caminho até Anha, onde fizemos a primeira paragem, fez-se num ápice, paramos para registar em foto a lápide do Saraiva, um individuo natural de Apulia que os ladrões mataram com um tiro há…182 anos, hum, quem seria este personagem? Até hoje ninguém soube responder, mas pelo aparato da campa bem cuidada, deve ter sido um tipo importante ou cheio de pastel.

Quem seria este personagem?

O grupo continuou a zimbrar (gostamos desta palavra inventada pelo Chico e por isso vamos utiliza-la muitas vezes neste texto porque encaixa bem no perfil do grupo nestes dois dias), sem olhar para o lado, tentando aldrabar a máxima do caminho “Amigo peregrino ou aventureiro, não faças o caminho, deixa que o caminho o faça a si”, pois, pois.

Paravamos de vez em quando, para o moço de primeira viagem, o Tone, a quem foi atribuída a nobre missão pelo traquejado Chico, de carregar e carimbar as credenciais dos todos poderosos duros de roer e, não adiantou nada que o recruta Soares aspirante a ddr fizesse má cara, porque o Chico que o adoptou como seu amparado e lhe ensinou os truques da missão, rapidamente o punha na linha quando tentava a esquivar-se às carimbadelas.

Depressa chegamos a Viana do Castelo, onde nos despedimos do ddr Cesar que fez questão de nos acompanhar até aqui e só não continuou mais um pouco porque no dia seguinte tinha o Geres Granfondo para roer e tinha de se precaver para o exigente ismifranço das estradas de pixe pelos montes do Geres.

 

Frontaria da casa onde morou o poeta Pedro Homem de Melo

4.Agora a caminho de Ancora, o Bruno ia avisando que a qualquer momento passariamos por um lugar paradisíaco em Cabanas, uma freguesia de Afife, onde o poeta, professor e folclorista Pedro Homem de Melo, escolheu para escrever e viver grande parte da sua vida no Convento de Cabanas junto ao rio com o mesmo nome. Foi autor de variadíssimos poemas, quem não conhece os poemas “Povo que Lavas no Rio” ou “Havemos de ir a Viana”, cantados por Amália Rodrigues? E outros poemas igualmente cantados por vários artistas dentre deles Sérgio Godinho, até os sargaceiros d`Apulia tem poemas de Pedro Homem de Melo no seu reportório.

Certamente um local que merece ser revisitado com mais calma.

Quando chegamos a Ancora o local do reforço, a “larica” estava em alta, as pedras do caminho que não nos deram tréguas desde Viana, provocando tremeliques sem fim nas burras, ajudaram ainda mais a acelarar a baixar os níveis de glicogeneo nos 18 atletas zimbradores.

O grupo conseguiu aguentar mais ou menos todo junto até Ancora mas, de repente ficou esfrangalhado em três, um classico dederriano, um grupo virou a norte, outro a sul, todos com a certeza que o caminho “é por  aqui”. Quando enfim voltaram a juntar-se, já os dois primeiros grupos estavam a preparar-se para roer as sandoxas da carrinha de apoio estacionada na marginal, junto ao forte de Ancora.

Mais uma carrada de ddr, prestes a atracar em a Guarda

Com o papinho atestado, só tivemos de pedalar mais 8km até Caminha e dar por terminada a pedalação por terras lusas. Faltava agora a operação de atravessar o rio para a margem galega, A Pasaxe em  Guarda.

O ferry que tinha obrigação de nos transportar, permanecia assapado no lodo do rio à espera da preia-mar para pegar ao trabalho às 15h00. Como a essa hora já queríamos estar a caminho para lá de Baiona e como não estávamos interessados em fazer mais 30km pela ponte em V.N.Cerveira ativamos o plano B e contratamos uma barcoita, táxi mar, com lotação para cinco pessoas e 5 burras e lá  andou a fanicar para um lado e para o outro pelo estuário do rio Minho, fazendo quatro carretos para passar toda maralha para o  estrangeiro, demorando a operação Caminha-Pasaxe 1h15.

Esta travessia aguada acabou por beneficiar toda a gente, o primeiro e segundo grupos a chegar à Guarda, ocuparam-se a esvaziar umas cervejitas, os outros enquanto esperavam pela sua vez, dedicaram-se a pescar e a recuperar alguma coisita do sono que perderam desde as 04h30.

Depois do ultimo grupo que tinha ficado em Caminha a dormitar, ter atracado na Pasaxe, com a cambada de novo junta, a zimbradeira recomeçou.

 

5. O Caminho prosseguia pela costa galega de espanha, atravessamos a Guarda, rodeamos o imponente monte de Sta Trega. O grupo continuava a pedalar à vista da costa das rias baixas, sem dar mostras de fadiga. Seguiu-se Rosal, em Oia só paragem para forçar o Tone das 18 a ter consciência da missão de que foi incumbido e ala para Baiona onde estava previsto aterrar para almoçar mas, antes disso acontecer os tupperwares andaram a fazer series entre Oia e Baiona na carrinha de apoio devido a um desencontro gêpêssiano, que baralhou as coordenadas do Tone Barbosa, nosso anjo protetor.

O relvado com vista para o mar, onde um grupo de rafeiros poisou para almoçar

O enfardanço do almoço aconteceu a 10km de Baiona, nas traseiras de um restaurante abandonado. Aqui, o chefe teve de se impor para sanar um conflito territorial, porque um grupo pequeno de rafeiros, queria que toda a gente se alapasse com as marmitas à sombra de uns pinheiros onde existiam meia dúzia de cadeiras e uma mesa, enquanto a maioria queria o parque relvado nas traseiras do restaurante abandonado, com vista p`ras rochas das rias baixas. No meio do conflito que poderia redundar numa guerra sem quartel com consequências imprevisíveis, o chefe puxou dos galões e já com os azeites, sentenciou “a carrinha é minha, vai p`ra onde eu mandar” e mandou muito bem, pois ordenou que a carrinha com a moina comestível fosse p`ro parque relvado com vista p`ras rochas das rias baixas. Enquando o grupo dos rafeiros que julgavam ter pedigree abancaram à mesa, o outro grupo de rafeiros rebolou-se com as marmitas na relva e pelas escadas do restaurante abandonado.

Quarenta minutos depois o conflito estava esquecido e o grupo abandonou o local do enfardanço hidratante/carbónico/lípido e retomou a zimbradeira do costume à procura de um cafe solo em Baiona, que tirasse o efeito de adormecermos em cima das burras.

Sem problemas, atravessamos Baiona e depois Ramalhosa, que fez aos cinco repetentes, recordar boas memórias da primeira vez que lá estivemosmos, seguiu-se Nigrán, Vigo, Redondela, sem dúvida a zona mais paisagistica desde a Guarda, do Caminho Galego, com uma vista soberba na saída de Vigo para Redondela sobre o estuário protegido pelas ilhas Cies.

 

6.Em Redondela, o caminho da Costa funde-se no caminho central e o transito de peregrinos obviamente torna-se maior.

Nós que sempre saudamos generosamente com “bom caminho”, todos os peregrinos que íamos encontrando, a partir de Redondela até Santiago, tivemos ainda mais “bons caminhos”, para distribuir por tantos peregrinos, por vezes saía um bueno camino e era caricato quando os peregrinos respondiam em português, porque…eram portugueses.

 

7. Os 20km de Redondela a Pontevedra fizeram-se sem problemas, com o habitual sobe e desce do caminho, o desejado fim da etapa do dia aproximava-se.

Na frente continuavam os mesmos zimbradores desde o inicio, com o mesmo ritmo, os invejosos não deixavam que ninguém os ultrapassasse, já os zimbradores a fechar o pelotão também os mesmos desde o inicio, não tiveram esse problema.

Por fim avistamos o casario da cidade e dali a pouco estavamos a travessar a cidade, passamos sem parar em frente da emblemática praça peregrina com a sua majestosa igreja da virgem peregrina e do papagaio Ravachol em busca do hotel don Pepe mas para lá chegar ainda tivemos de atravessar a ponte sobre o rio para a outra banda, com o engano da ordem, ou este grupo não se chamasse ddr – só à segunda é que atinamos com a entrada na ponte – e eis que finalmente avistamos o nosso poiso final e

para parar de dar ao pedal, mas a etapa do dia só verdadeiramente terminaria daí a três horas depois de devorar um belo rodizio no Porteliñea em a Barca, porque o desgaste muscular dos 161km, não se repõe com sandes e fruta, aquilo é que foi atestar vilanagem, foi ou não foi Miguel e Almeida?

Não deixamos os créditos por bocas alheias e o repasto só terminou quando entoamos loas ao grupo ddr:

Eeeeeeee o que é que nós somos?  Duros de Roer

 

2º dia

 

03 junho

8.Envergando o equipamento mais bonito do mundo e depois de uma noite calminha, às 7h30, todos os ddr estavam sentadinhos com os pés debaixo da mesa afim de atacar o pequeno almoço, ninguem diria, ao ver a forma empenhada como a cambada tragava os croissants e companhia, que poucas horas antes tínhamos devorado um vitelo no rodizio do Porteliñea, até que alguém alertou: O chefe? Falta o chefe, deve ter adormecido, é melhor ir chama-lo, mas não foi necessário, o chefe com um sorriso rasgado de orelha a orelha e bigode afiado, deu entrada no breakfast room, cumprimentou toda a gente mas houve uns engraçadinhos que lhe responderam ironicamente em italianoo: Buongiorno l`italiano da milano.

 

9.Todos afinadinhos, às 07h31 (hora portuguesa), iniciamos a segunda etapa e, para não perdermos tempo mais tarde, enganamo-nos logo na partida e assim o assunto dos enganos ficou arrumado e, se no dia anterior tivemos alguma dificuldade em atinar com a entrada na ponte, desta vez enfiamo-nos logo à primeira e a meio lá tivemos de dar meia volta porque não precisávamos da ponte para Santiago.

 

10. Os 70km da tirada até Compostela, desde A Barca, pela nossa estimativa, que falha quase sempre, e a zimbrar (continuamos a adorar esta palavra) como ontem, demorariam a ser roídos até às 11h30, mas, há sempre um mas a estragar tudo e lá se foi a estimativa da chegada p`ro galheiro.

 

A fonte das quatro bicas. Sem comentários

Em Caldas de Reis, cumprimos a tradição, pelo menos alguns cumpriram e foram ao banho na fonte das quatro bicas, isto é amarrecaram como as patas dos patos, afinal tínhamos tempo e o que restava dos 70km seriam pice-a-cake até Santiago mas, como já dissemos não foi bem assim, entre Caldas de Reis e Padron a coisa complicou-se um pouco e se uma roda há muito vinha sofrendo com falta de ar e a precisar constantemente que lhe bufassem para dentro, um dropout resolveu também entrar na brincadeira e partiu. Valeu que os injinheirus Almeida e Bruno, imediatamente entraram em ação tentando remediar a situação até à carrinha de apoio, situada a 8km em Padron.

Ao fim de 40 minutos a burra levantou-se, com um novo dropout mas, canibalizada com menos quatro elos de corrente e foi assim ao pé coxinho que conseguiu chegar a Padron, onde depois foi substituída por outra de reserva. Grupos altamente profissionalizados como nós ddr são assim.

Em padron aproveitamos e fizemos a ultima  pausa para enfardar os restos de comida  aziomada do dia anterior, mas em compensação tivemos a alegria de assistir empolgados, enquanto tomávamos café, à espetacular final de moto 2 de Miguel Oliveira. Foi bonito pá, no meio de tantos espanhois ver a classe com que o portuga limpou aquilo. Ainda bem que a burra nos fez atrasar para festejar-mos o feito do Oliveira, em terra alheia.

 

11.Os 24 kms de Padron até Santiago, foram a consagração final do Caminho e dos ddr.

Chegamos de mansinho a uma das ruas pedonais da cidade de Santiago, que rodeiam a Catedral, pejada de peregrinos. Com as burras pela mão demos entrada na praça do Obradoiro em frente à Catedral de Compostela. Um frio de rachar esperava por nós, e, ao contrário das outras vezes, se calhar foi a causa do frio que vimos pela 1ª vez a praça com tão poucos peregrinos.

O Caminho tinha terminado.

Em resumo, foram dois dias de boas vivências, de aventura, de fortalecimento do grupo que é sempre o nosso objetivo.

O fantástico grupo de 2018:

Filipe Torres; Francisco Ferreira; Emílio Santos; Celestino Palmeira; Paulo Santos; Emílio Hipólito; Filipe Correia; Narciso Ribeiro; Bruno Monte; António Maia; Tiago Costa; António Solinho; Arsénio Almeida; Marco Gonçalves; André Tarrio; Miguel Dias; António Soares e Alberto Ribeiro  

Na logística:

António Barbosa

PS: parabéns ao big ddr Cesar Nogueira, pelo 19º lugar no GeresGranfondo, mais uma vez dignificou os ddr. Parabens campeão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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